sexta-feira, 7 de abril de 2017

A verdade e as mentiras da fuga - Capítulo 3 - Volume I - Hakushaku to Yousei - Light Novel


Nota de abertura: Começa agora o 3º capítulo do Volume I de Hakushaku to Yousei! Enjoy!!

Era um poço abandonado, mas não estava seco. Lydia tirou água do poço com um balde enterrado na grama abundante depois que o limpou. Encontrou uma xícara trincada e uma panela de ferro destorcida em um canto do chão sujo da cozinha.

A cabana desabitada estava perto de desmoronar, e as suas dobradiças de madeira rangiam cada vez que o vento as atingia. O local onde eles estavam era bem afastado da trilha de ferro, e bosque cerrado agia como camuflagem, Huxley não perceberia que ali havia uma construção.

― Ei, Lydia, não deveríamos apressar e sair daqui? – perguntou Nico, que apareceu na cerca de pedra que rodeava o poço.

― Onde você estava? Pensei que havíamos nos separado.

― Estava seguindo você sem nenhum problema. Apesar de que eu estivesse invisível.

― Bem, você sempre desaparece quando algo se torna perigoso.

― Então, o que deveria fazer nessa situação? Fiquei no meu limite para não te perder de vista. E o mais importante, eu acredito que você não tenha tempo para pegar água.

Lydia soltou um suspiro e sentou-se ao lado de Nico. Ele estava certo, se ela fosse fugir, agora era a chance. Dentro da cabana, Edgar estava de olho neles, mesmo que estivesse ferido. Talvez, ela conseguisse escapar dele. Depois de ter sido obrigada a seguir viagem por um Edgar ferido, ela se perguntou para onde estavam indo. Depois de um tempo, a carruagem parou, e ele disse ao cocheiro para se dirigir até a próxima cidade. Entregou-lhe dinheiro para que ele mantivesse silêncio. Saíram e caminharam atravessando os campos de uma fazenda.

Provavelmente, ele deve ter previsto que Huxley viria atrás da carruagem. E decidiu passar a noite nessa cabana que encontraram em ruínas. Não era como estivesse presa, mas no final, Lydia decidiu seguir Edgar. Questionou-se se ela poderia se tranquilizar quanto à sua falta de esperança na companhia de um assassino em estrada escura. Naquele caminho, não havia uma luz acessa ou uma casa, no entanto, ela decidiu que aquilo era absurdo.

― Você está certo, ele é um assassino.

― Ele é realmente o criminoso procurado.

― Parece que sim.

Edgar chamou o homem, que se apresentou como Huxley, de Gossam. Gossam era o nome da família da vítima que quase foi morta pelo ladrão.
Huxley provavelmente era o filho de lord Gossam. Quando Edgar roubou seus bens, ele deve ter perdido o alvo e atirado no próprio pai.

De qualquer modo, foi tudo que Lydia entendeu.

― No entanto, ele disse que o dinheiro roubado era uma recompensa. Tudo leva a crer que a família Gossam também tem feito algo contra a lei.

― Lydia, o que nos interessa que dois criminosos estão brigando e tentando se matar um ao outro? Isso significa que não devemos nos envolver. Não há a necessidade sequer de verificar a tatuagem em sua língua. Você se lembra de que o chamaram de sir John? Pelo jeito, é o executado da América.

― Eu sei perfeitamente disso, Nico.

Ela olhou para o leve corte em sua mão, que foi feito quando ela tentou lutar para se libertar de Huxley.

― Ele salvou minha vida.

― Ouça, isso porque se acontecesse alguma coisa com você, ele não seria capaz de encontrar a espada preciosa do Lord Cavaleiro Azul.

― Isso é verdade. Mas, não há sentido ele quase se matar para me salvar.  

― Porque ele não está morto, e nenhum ferimento o faz correr perigo de vida. Se fosse para comprar a sua simpatia, sairia mais barato do que 500 libras para ele.

O que ele dizia fazia sentido. E, então, Nico estendeu a palma da mão, ou melhor, a palma da pata, na qual tinha uma pequena pílula branca.

― Triture isto e dê para ele beber.

― O que é isso?

― Uma fórmula secreta de sono das fadas. Vai colocá-lo para dormir. Uma vez que isso ocorra, não teremos preocupação em sermos seguidos ou capturados. Agora é a chance, já que o servo mortal não está aqui.

Hm, você está certo. A chance de escapar é agora quando Raven e Ermine não estão aqui.

― Sim, você deve ficar acordada e cair fora daqui.

Havia realmente algo errado comigo. Se não correr agora, o que sabe-se lá o que este ladrão faria comigo.

Segurando a pílula em sua mão, Lydia se levantou. Andou se escorando no patente da porta, quase caindo, entrou na cabana. Edgar estava em um canto da pequena sala, sentado no chão e encostado à parede, parecia exausto. Ele parecia tão mal, como fosse um homem esgotado e ferido, que ela hesitou em escapar.

Ficaria feliz que ele não parecesse uma pessoa perigosa. Havia fogo na lareira. Ele deveria ter fósforos consigo. Partes quebradas de uma cadeira de madeira e outros restos de mobília foram usados como lenha para as chamas que cresciam e aqueciam o ambiente.

― Não é bom que você se mova.

Ele olhou para cima, com a cabeça inclinada como estivesse surpreso e se perguntando o porquê ela voltou depois de ter saído. Embora, ele poderia estar fingindo também.

― Eu apenas acendi o fogo.

Lydia carregava a panela de ferro cheia de água, e voltou-se para Edgar.

― Está doendo?

― Um pouco.

― Isto é confrei. Você irá melhorar assim que triturar as folhas e colocar sobre a ferida. Elas irão parar o sangramento e desinfetar a ferida.

Ela mostrou a Edgar as folhas de ervas medicinais. Por um momento, ele hesitou, estreitou os olhos como fosse dizer alguma coisa, mas tranquilamente as aceitou.

― Você as encontrou mesmo nesta escuridão?

― Sobre isso, você poderia me dar um de seus punhos?

― Ah, para colocar o remédio...

Ele tirou um dos punhos da camisa, no qual uma das abotoaduras era de granada. De maneira descuidada, ele entregou a ela.

― Não me interprete errado. Não sou a única em conseguir isso. -  disse Lydia e jogou-o pela janela.

― Há alguém lá fora?

― Sim, uma fada.

― Realmente, você cobra bem caro algumas folhas comuns de jardim.

― Mas, não seria capaz de encontrar confrei se não crescesse muito por aqui.

Edgar olhou para as folhas levemente secas, e, de repente, começou a rir e gargalhou.

― Então, esta é a sua capacidade de negociação com as fadas?

― O quê? Está me dizendo que as minhas conversas com as fadas são absurdas?

― Não é isso. É que por um momento, uma parte de mim chegou a acreditar seriamente nas fadas.

― Você está me dizendo que não pode acreditar nisso?

― Quem sabe. Mais do que isso, não posso acreditar que ainda esteja aqui, na minha frente.

Vendo-o a agir com este tipo de atitude de fraqueza, ela se sentiu mal por tentar escapar. Ela iria abandonar alguém ferido, alguém que se machucou em seu lugar. Tentou acalmar seus pensamentos e deu uma desculpa que escaparia depois que tivesse cuidado de suas feridas.

Exatamente como Huxley, mesmo que Raven e Ermine estivessem vindo atrás da carruagem, então não havia como entrar em pânico, se ela esperasse até próximo ao amanhecer. Assim seria mais seguro para Lydia do que andar em estradas escuras e perigosas.

No entanto, era inegável que uma parte dela estava hesitante perante isso.
Mas, sou eu que fui enganada e usada.
Lydia se afastou alguns metros de Edgar e sentou-se em uma cadeira rangente.

― Por quê? Pensei que seu forte fosse enganar e ameaçar as pessoas e fazer com elas o que bem quisesse, my lord.

― O feitiço está quebrado.

― Eu não estive sob nenhum feitiço desde o início. – respondeu Lydia de modo confiante. Embora, ela se questionou a si mesma se isso era verdade.

Mesmo neste minuto, ela poderia ficar ali porque não podia resistir ao encanto perigoso que emanava dele.

Ainda que ela pensasse nisto, negou de forma categórica em sua mente. Certo, ele podia ser alguém com uma aparência charmosa e dizer coisas agradáveis que as mulheres adorariam ouvir, mas Lydia sentia que ele não era tão doce assim. Entretanto, ela estava bastante curiosa sobre a sua escuridão, porque estranhamente assustador.

Parecia um nobre desde que nasceu, mas, na verdade, era um criminoso perigoso. Ele usou a sua fala objetiva e seu sorriso perfeito para capturar o coração dos outros. Com essa exibição, ele cobria a verdade e manipulou os outros com suas mentiras. E ainda assim, por que ele a defendeu e se machucou por ela?

Assim como Nico disse, pode ser pelo falto que ele quer a simpatia de Lydia, mas também na virada da situação, naquele momento, ele reagiu. Era impossível que ele tinha isso em mente. Em primeiro lugar, a atitude de Lydia, naquele momento, foi precipitada e instintiva, algo completamente imprevisível. É por isso que ela queria descobrir a parte misteriosa dele. Mas, podia ser a magia que ele usou nela também.

― Quero saber, quem é você? Lord Edgar? Ou sir John?

Ele hesitou por um momento, mas respondeu à pergunta:

― Edgar, esse era meu primeiro nome.

― O que você quer dizer com era?

― Porque ele morreu. O menino com esse nome morreu, quando tinha doze anos, junto com seus pais. Eles eram suspeitos em tomar parte de uma rebelião, e seu pai matou a sua família e, em seguida, tirou a sua própria vida. A linhagem da família terminou ali. E é por isso, o que está na sua frente não passa de um fantasma. Você pode me chamar do que quiser.

― Mas, você está aqui, vivo!

― Sim, vivo... Sei que estou na presença de uma lady, mas me perdoe. Ele tirou o colete e a camisa manchada de sangue, e contraiu as sobrancelhas perfeitamente esculpidas enquanto inspecionava suas feridas.

Por outro lado, o local onde ele estava ficava longe do fogo, e assim Lydia não se importou. Indiferente com ela, Edgar continuou.

― Mas, não como fosse resgatado. Quando vim, estava no inferno, em uma cidade no sudeste da América. Fui vendido a um homem que queria um escravo, e uma pessoa que supostamente seria morta. Não era tratado como um ser humano. Escapei daquele lugar há quatro anos. Raven e Ermine vieram comigo. Nós nos escondemos no centro da cidade, e fugimos dos homens que nos caçavam. Fizemos qualquer coisa para sobreviver.

Ao ouvir sua história inimaginável foi a razão pela qual ela, provavelmente, não ajudou com seus ferimentos porque sua mente estava cheia de desconfiança. E mesmo esta história poderia ser uma grande mentira.

― E sobre você ser um ladrão assassino? Você realmente matou uma centena de pessoas?

― Os rumores tendem a ser exagerados à medida que o tempo passa.

― Mas você o fez?

― Estávamos na parte mais baixa da sociedade, nos lixões sujos. Meninos da mesma idade que nós viviam roubando ou vendendo seus corpos, e mesmo fazendo aquilo, mal conseguiam sobreviver. Existiam como cães vadios. Eles não sabiam pensar e nem ler, simplesmente se mantinham desesperadamente. Mas, nunca souberam sobre o local onde ouro estava escondido, como colocar as mãos nele, dinheiro sujo é dinheiro sujo. Algo que não existia em uma sociedade normal.

― E foi assim que você se tornou líder deles, e todos o chamavam de sir.

― Rei dos ratos de esgoto? Sim, talvez. Um rei apenas ordena seu exército. Ele decide o plano, reúne seus homens, dá-lhes armas, e ordena ir. Em um campo de batalha, com certeza haverá vítimas. E, por isso, realmente é minha culpa. Portanto, não vou dizer que nunca matei ninguém. Mas, não quero que você se preocupe. Então, vou lhe contar que o dinheiro que paguei você não foi roubado. Trabalhei como operário durante o dia, acumulei dinheiro com falsificação, algo que você não aprovaria. De qualquer forma, investi dinheiro comprando ações. Essa é a fonte da minha riqueza. Felizmente, ela foi tão bem construída que ninguém suspeitaria de mim, quando me refiro como um nobre.

Lydia o ouvia calmamente. Edgar não mudou a expressão quando falou de si mesmo, era como ele contasse de outra pessoa.

― Entretanto, sou apenas um homem que não possui um nome, uma identidade e supostamente morto. Mesmo que fosse um negócio legítimo, fiz transações usando o nome de outra pessoa. Aonde quer que vá, a marca de um escravo me segue, tremo às sombras de meus caçadores.

― A marca de um escravo?

― Você já sabe, não é? Sobre a cruz marcada em mim. Não a procurou quando estávamos no trem?

Então, ele estava acordado, e mesmo assim, fez fingiu que estivesse dormindo. A faceta ofendida dela apareceu em sua feição, porque ele sorriu de modo divertido para ela.

― Sua reação foi tão fofa, que não pude resistir.

Como ele podia dizer uma coisa dessa durante uma revelação tão deprimente? Estava além de sua compreensão.

― Da próxima vez, vou me certificar se consegui derramar água fervente em você!

― Eu não vou fazer mais isso.

― Bem, então, você realmente tem a tatuagem.
― Não é uma tatuagem, é mais uma marca. O homem que não me queria morto, a marcou em mim para significar que era um escravo. Não sei como o rumor da tatuagem começou, mas parece que outras gangues a copiaram e graças a isso, ela ficou famosa. Assim, líderes de gangues criminosas se nomeavam em todo lugar. Então, ninguém sabe como havia começado o rumor sobre o assassino cruel.

Antes que ela percebesse, Lydia começou a encarar a situação de forma positiva.

― Afinal, quem é esse homem chamado Gossam? Como voltou para a Inglaterra?

― Gossam era um médico e tinha vindo para a América à procura de cobaias para usar em experiências do corpo humano. Além disso, queria o cérebro de um criminoso para fazer sua pesquisa psiquiátrica.

Ahn? Um cérebro e experiências no corpo humano?

― Isso mesmo. Fui capturado porque alguém me relatou e estava à espera para ser enforcado. Mas, Gossam trocou-me com alguém em segredo. Parece que ele pagou muito dinheiro para os envolvidos nisso.

― Então, eles pegaram o seu cérebro?

― Uma observação interessante.

Eu não penso assim, refletiu. O que ele contava era tão absurdo que aos poucos ela começou a acreditar em tudo.

Ele usou a gravata desatada como uma atadura, e a amarrou em torno de sua ferida, e fez isso como estivesse acostumado.

Talvez no lugar em que ele viva, as lesões aconteciam o tempo todo.

― Ele viajou por todos os lugares para obter seu criminoso. Ele me trouxe para Londres, e então tentou conseguir todos os dados que podia. Injetaram-me drogas, e outras experiências dolorosas tão perto da tortura. Eu não era a única experiência, havia alguns com as cabeças abertas, mesmo vivos. Ele não pesquisou apenas criminosos, mas também usou pessoas inocentes e acabou assassinando todos.

Enquanto ouvia, ela começou a se sentir mal. Lydia não podia imaginar esse tipo de mundo. O lado periférico da sociedade, cheio de conspirações e loucura. Ela não conseguia conceber que as pessoas, que foram empurradas para esse mundo, viram ou sentiram. É por isso que ela nunca seria capaz de entender completamente a sua pessoa.

― Para mim, é inimaginável que as fadas tenham partes de seu coração tão destorcidas como as pessoas. Você está dizendo que há pessoas indiferentes em vender outros seres humanos e usá-los como experimentos?

Lydia abaixou os olhos e só conseguiu dizer essas palavras.

― Você é uma garota feliz. No entanto, os seres humanos são criaturas capazes de fazer qualquer tipo de atrocidade.

Ela sentiu o ar se mover ao seu redor, e levantou a cabeça. Lydia não percebeu que Edgar estava à sua frente a encarando. Ele era um homem que acabava de chegar aos seus vinte anos, mas como ele contou, tudo que tinha fora tomado, seu nome, sua identidade, seu passado, e se fosse verdade que ele sobreviveu com todas as forças, o qual, escondia por trás de seu sorriso cativante, algo inimaginável aos outros, o fazia uma pessoa perigosa.

O que ele tinha em suas mãos era uma espada, que estava disposta em uma bengala. O corpo de Lydia ficou rígido.

― Eu conhecia a história e a lenda do Lord Cavaleiro Azul desde criança. Consegui aquela moeda de ouro em uma loja de antiguidades na América. Estava planejando investigá-la quando finalmente retornei à Inglaterra. Porém, mesmo voltando para Londres, eu ainda estava preso a Gossam e não podia agir. É por isso que precisava de Gossam para encontrar com a moeda de ouro o caminho que levava à localização do esconderijo da estrela safira e esperar até terminar a pesquisa. Não poderia ser morto, pois esperava por Raven e Ermine. Esse truque, então, era perfeito para obter algum tempo. Mas, por isso que tenho que competir com a sua família pelo tesouro, e isso tem me atrapalhado.

― Logo, isso significa que você não é o verdadeiro descendente de Lord Cavaleiro Azul, certo? Se você pedir ajuda, mesmo que não seja o verdadeiro, será quase impossível obtê-la que é protegida pelos merrows.

― Ainda assim, é a minha única opção de conseguir a espada preciosa.

― Você será feliz recebendo um nome falso? Não seria melhor tentar recuperar o seu verdadeiro?

Ele se curvou um pouco, dobrando sua face para Lydia.

― Você está errada, Lydia, quando acredita que algo falso não tem valor. Qual seria a vantagem de recuperar o nome de uma família rotulada como rebelde? O escravo e o líder da gangue estão mortos. Mesmo que isso seja algo inventado, preciso de um nome que seja grande, com uma presença inegável. Eu necessito desse poder inquestionável para que aqueles que me colocaram no inferno não consigam colocar mais as mãos em mim. Se não obter o nome de conde, irei morrer como um lixo que sou. Mas, se conseguir, irei te mostrar como faço algo falso se parecer real. – ele gentilmente a persuadiu. E então, ele segurava a bengala na frente de seus olhos.

― E agora?

― Se um ladrão tiver uma arma com ele, você não iria conseguir dormir direito, não é? Vou deixar isso com você.

Afastou-se de Lydia e recostou-se contra o canto da parede. Seu verdadeiro eu estava morto. Se ele realmente viveu uma vida fictícia, como o objetivo de outra pessoa, tudo era uma grande mentira. Para ele não havia o verdadeiro e o falso, apenas a diferença de que uma mentira fosse útil ou não. O que ele contou à Lydia não se podia ter certeza de que fosse verdade. No entanto, vindo dele uma bola de vidro poderia parecer um diamante. Desse modo, Lydia podia ser convencida e se sentir persuadida pelo seu pensamento, mesmo sabendo que um vidro não se parece com um diamante.

Ela até pensou que talvez o nome do Lord Cavaleiro Azul seria mais adequado a ele do qualquer outra pessoa. Além disso, ele passou o porte da arma e a tratou como fosse um cavalheiro. Poderia ser seu plano que ele não era uma pessoa cruel. Contudo, ela ainda era cautelosa em relação a ele. Sem contar que entregando sua arma, é uma forma de testar se Lydia planejava escapar.

Se ela fugisse seria um problema para Edgar. Isso tornaria a busca pela espada preciosa do Lord Cavaleiro Azul cada vez mais difícil, e aumentaria a chance de ser apanhado por Huxley ou pela polícia. Ele acreditava que a controlaria a garota, mesmo que entregasse sua bengala. Então, o que ele faria se ela insinuasse que escaparia? Mostrar-lhe a sua verdadeira face criminosa? O melhor a se fazer era induzi-lo a tomar a pílula para dormir, antes que ela visse esse lado dele.

Determinada, Lydia levantou-se e olhou para o pote sobre o fogo. Mergulhou a caneca na água quente, colocou a pílula que Nico lhe deu, acrescentou uma filha de hortelã e entregou a Edgar.

― Pode não ser tão bom quanto um chá, mas isso ao menos irá acalmá-lo.

― Ah, obrigado! – ele sorriu para ela sem demonstrar alguma preocupação.

Porém, Lydia sentiu algo afiado por trás daquele sorriso, e de repente sentiu as costas se arrepiarem. Edgar tomou a caneca com a mão e com a outra, de modo instintivo, agarrou a mão de Lydia e a puxou.

― O que você colocou aqui?

― O que você está dizendo?

― Alguém que planeja algo demonstra cautela com seu comportamento. Talvez tenha pensado que fez isso de modo despercebido, mas vi que você colocou algo além do hortelã. É perigoso provocar um criminoso com esse tipo de coisa.

― Solte-me!

― Se fazer isso, você irá fugir.

― Claro que faria! Você é um ladrão! – gritou Lydia de modo provocador.

― Você realmente não tem qualquer autodefesa. Assim como foi pega por Huxley, não deveria fugir de forma tão imprudente. Você perderia sua vida mesmo que tivesse mais de uma.

― Você está dizendo que irá me matar?

― Eu nunca ousaria. Se fizesse, então não descobriria onde a espada está escondida.

― Mesmo que você me ameace, não farei o que me diz!

― Você realmente não entendeu. Há outras maneiras de fazer alguém executar o que você quer. Mocinha ingênua, tenho certeza de que nunca poderia imaginar o que sentir um desespero tão profundo e escuro a ponto que sequer querer continuar a respirar. 

Nesse momento, Lydia lembrou-se de como Ermine descrevia Edgar: um homem triste. Mais do que estar com medo, sentiu seu coração ser ferido pela pessoa que estava à sua frente, a qual revelou pela primeira vez seu verdadeiro eu.

Não era o lado do verdadeiro criminoso, era sua dor, o sofrimento de alguém que foi roubado de sua felicidade e seu futuro que foram prometidos a ele.

―Você sentiu um desespero assim?

De repente, ele franziu o cenho. Talvez ela tenha dito algo que poderia o provocado.
O meu instinto de sentir perigo deve estar realmente confuso.
Assim que ela pensou isso, Edgar a largou. Ainda aparentando dor, ele abaixou sua face.
No final das contas, a sua respiração foi como ele disse “isso mesmo”.

― A espada do Conde Cavaleiro Azul é minha única esperança. Lydia, você está me abandonando?

Seu olhar cravou nela, como ele tentasse impedir que sua amante o deixasse. Lydia também estava prestes a se esquecer sua posição de prisioneira.

― Mesmo que você diga isto não tenha utilidade...

― Por favor, não vá!

― O que você está dizendo não faz sentido. Foi você que me ameaçou e planejou que eu fizesse o que você diz.

― Se você dizer que vai, então vou me matar.

―Ei espere! Essa é a sua ameaça?

― Se a minha desaparecer, então vou sofrer para manter a minha vida.
Ele olhava para a caneca que Lydia o entregou e depois bebeu o conteúdo de uma maneira desesperada.

― Se isso for veneno, vou morrer, e, portanto, não irei mais magoá-la.

― Não seja ridículo! É uma poção para dormir!

― Entendo. Nesse caso, meu destino será decidido quando acordar. Se você desaparecer diante dos meus olhos, minha vida termina aqui. Ah, isso não soa bem. Meu destino está em suas mãos, como as palavras de um amor passional.



― Você deve estar brincando!

Ele mostrou a uma Lydia chocada e boquiaberta um sorriso ferido, mas perfeitamente gracioso.

― Boa-noite, minha fada.

Mesmo que fosse em tom de brincadeira, o modo que ele disse soou como uma proposta de um amor honesto. O som de sua doce voz ainda ressoava em seus ouvidos, quando ele abaixou até o chão enrolado no próprio casaco. Imediatamente, ele afundou em um sono profundo, e Lydia continuou olhando para o lado indefeso de Edgar.

― Oh, graças a Deus! Isso estava me assustando! – disse Nico, se mostrando. Bom, Lydia, o seu timing na hora de preparar a poção foi bem ruim. No fim, tudo correu bem desde que ele bebeu.

Ele apertou a parte de trás da perna de Edgar para se certificar que a poção tinha funcionado.

― Agora vamos nos apressar e cair fora, Lydia.

******
― Ted. – Aquele homem chamou Edgar.

A voz que nunca desapareceu de sua memória, ainda o atormentava até mesmo em sonhos.

― Ted, você é perfeito. Tudo que você deve fazer é olhar por cima para aqueles que são inferiores a você e deleitar-se com a luz. Eventualmente, seus seguidores se apresentarão e se jogarão aos seus pés. Vou te ensinar como é fácil manipular aqueles ao seu redor. Eles não estarão conscientes de como você é capaz de fazê-los se movimentar como assim deseja. Deste modo, você irá se tornar como eu. Vai pensar como eu, governar como faço, e manejá-los do mesmo modo que eu.

Não há uma maneira de que isso aconteça, porque Edgar conseguiria escapar das garras do homem que disse isso. Ele não ficou da maneira de que esse homem queria. Era um home que usava uma máscara para esconder a metade distorcida do seu rosto, que ele dizia ser uma ferida adquirida em uma batalha. Chamava-se Príncipe e tentou fazer de Edgar seu fantoche.

Ele queria um boneco que fosse leal e atraente, uma marionete que se mexesse, conversasse e trabalhasse para seus desejos e aparecesse em seu lugar, já que não poderia comparecer em público. Ele nunca conseguiu realizar o sonho de que o boneco não tivesse nem vontade ou alma, assim como uma concha vazia. No entanto, de vez em quando, Edgar ficava com medo. Tudo que ele tinha construído até agora poderia ser manuseado por aquele homem.
Porque quando Edgar fugiu desesperadamente, se escondeu na tentativa de sobreviver, acabou usando seus conhecimentos e suas habilidades que foram armazenados dentro dele.

Se ele se colocasse acima dos outros, agindo de forma tolerante e paciente em relação a eles, se transformaria em uma pessoa atraente e encantadora, assim tudo ocorreria da maneira planejada. Ele poderia fazê-los felizes ou nervosos, sentir pena e temê-lo à sua vontade, manobrar seus sentimentos e usá-los em seu proveito.

Contudo, Edgar sabia que aqueles que manipulava não eram seus verdadeiros aliados. A confiança não podia ser formada em uma relação servo-mestre ou líder-seguidor, mas, somente quando dois indivíduos são em pé de igualdade. Mas, isso não era tão fácil, não poderia ser formado com qualquer um.

Sem nenhuma razão, seus únicos aliados eram Raven e Ermine. E ele não tinha outra escolha, então, utilizou as opções apenas para o impulso do momento. Afinal, ninguém podia entender a dor que Edgar e seus amigos passaram. Ele racionalizou que os tinha usado como quisesse.

Lydia era outra das muitas que ele usaria, mas não deu certo. Se ela fosse uma moça ignorante, pensou que seria fácil conquistá-la. Mas, ela não confiou nele imediatamente, assim como ele programara. E foi inesperado que suas identidades fossem reveladas devido às declarações do filho mais velho de Gossam. Mesmo assim, graças à ferida que Edgar sofrera, poderia ser utilizada como uma vantagem, e assim comprar sua simpatia. Por isso, ele decidiu contar sobre o seu passado. Parecia que ela não hesitava, contudo, no final, decidiu que ainda não podia confiar nele. Quando ele a viu colocar a pílula, apenas restava uma escolha para Edgar.

Ele a faria ouvir pela violência. No entanto, não conseguia entender o porquê fazia tal coisa, como lhe dar a chance de escapar.

― Você sentiu um desespero assim?

Por qual motivo ela poderia cogitar isso sobre ele, quando estava diante de um terrível criminoso? Num momento em que tudo você pensaria era se proteger?

Edgar ficou confuso quanto à forma que se mostrava naqueles olhos verde-dourados de fadas. De modo geral, ele era absolutamente ciente de como se apresentava aos outros. Ele estava consciente, agia conforme o papel e costumava criar uma impressão nos outros. No entanto, com Lydia, sentiu que ela olhava além das camadas de máscaras de Edgar, indo para parte mais obscura e maligna.

Ele não podia acreditar em si mesmo por derramar seus sentimentos profundos e honestos para que não o deixasse. E ninguém poderia concordar que matar-se pode ser uma ameaça eficaz. Mas, isso não o importava mais. Pelo contrário, acreditou que teria sido melhor que ela o tivesse envenenado.

Um simples poção de dormir que drenou o poder de sono sobre ele, e lhe brotou o despertar.

A luz do Sol cobriu suas pálpebras, despertando-o. Edgar abriu lentamente os olhos. O Sol da manhã se derramava sobre seu corpo através do telhado aberto da cabana e das rachaduras da parede.

******

Já é manhã.
Mais uma manhã.

Miau!

Ouviu o miado de um gato. Edgar sentou-se e percebeu um gato cinzento com uma gravata amarrada em torno do pescoço sentado no peitoril da janela.

É o gato de Lydia. Por que ele está aqui? Assim que se perguntou, viu a garota segurando a bengala, adormecida contra o encosto da cadeira perto da lareira.

Minha nossa! Realmente, não posso continuar com isso - murmuro Nico.

Jogou um scone para o jovem que estava fitando para Lydia deslumbrado. Ele foi acertado na cabeça e voltou-se para o gato. Inclinou a cabeça não conseguindo assimilar a situação, talvez pela razão que Lydia não escapara ou porque um gato lhe havia jogado um bolinho com uma das patas dianteiras.
Ele olhou para scone tinha caído nele, e não se moveu como ferisse o seu orgulho por ter recebido comida de um gato.

― Coma! – disse Nico, de modo propositalmente arrogante.

― Uh, foi você, Nico? Obrigado pela sua oferta, mas estou bem. Assim como você prefere seu chá quente, vai contra a minha política receber comida dos outros.

Hmmm... Então, você pode compreender o que estou dizendo.

― Pode ser a minha imaginação, entretanto, você me parece rude quando fala.

― Oh, eu entendo. Você é o tipo de humano que pode nos ouvir, mas você não percebe isso. Há seres meio-humanos geralmente como você. Bem, não me importa, desde que você entenda do que eu digo. Agora preste atenção, seu ladrão maldito, se você fizer algo com Lydia, nunca irei te perdoar.

Ele abriu sua boca e sibilou sua mensagem com suas presas à mostra para Edgar.

― Ah, então, você está preocupado com Lydia. – falou Edgar enquanto olhava para ela. ― Eu me pergunto, por que ela não foi embora?

― Quem sabe? Para Nico foi uma grande insatisfação. Nico afirmou para Lydia que se o ladrão morresse sozinho, seria bom negócio para a sociedade, mas ela não foi.

Talvez seu sentimento de simpatia por ele por estar ferido tenha vencido. Mesmo que ele realmente morresse, isso poderia ter assombrado seus sonhos.

Contudo, Nico acreditava que se alguém dependesse de Lydia, ela não o desprezaria. Ainda que ela era encarada como um changeling de uma fada, quando era pequena e tratada como uma aberração, nunca chegou a odiar as pessoas. Em vez disso, julgava que pessoas, que assim como ela, nasceram para se tornar uma ponte entre humanos e fadas, e seu dom era mais que necessário. Até agora, ela trabalha para os moradores que zombavam dela, começando a partir do título fairy doctor, o que enfatizava o seu coração mole. Se havia alguém em apuros, certamente ela viria em sua ajuda.  É por isso que ela não conseguia detestar Edgar sendo que podia deixá-lo morrer. 

― Talvez ela tenha se apaixonado por mim.

― Isso é impossível.         

― Provavelmente, você esteja certo.

A luz do Sol refletia em seus cabelos castanho-avermelhados. Edgar se levantou e caminhou lentamente para Lydia. No entanto, parou quando Nico pulou no colo de Lydia.

― Você está me dizendo que não posso? Só vou tocá-la um pouquinho, então, faça as vistas grossas apenas uma vez.

― Em seus sonhos.

Ignorou o assobio e estendeu a mão. Ele tocou o cabelo liso que pendia sobre sua bochecha. Lydia abriu os olhos. Os raios solares refletiam seus olhos verde-dourados, com os quais ela via as fadas.

― Bom-dia, Lydia.

Antes de qualquer reação vinda de Nico, Edgar tomou a mão de Lydia e a levou para os seus lábios, beijando o seu dorso.

― O que você está planejando fazer? Seu pervertido! – Lydia gritou em pânico.

― Nada, realmente. Desde que seu gato a esteja protegendo.

Realmente, valeu a penas se simpatizar com este bastardo frívolo, pensou Nico, enquanto soltava um suspiro.

― Ei, Lydia! Trouxe alguns biscoitos. Vamos tomar café da manhã.

Ela pegou o scone que ele atirou para ela, com ambas as mãos, mas ainda olhava Edgar de forma suspeita.

― Pensei que você me odiava. Estou tão feliz de vê-la novamente.

― Odeio você! Odeio mentirosos. E é por isso que te odeio também.

― Mas, você decidiu que não me abandonaria.

― Isso porque eu sou uma fairy doctor e aceitei sua oferta de trabalho. No entanto, não é como eu dissesse que te ajudarei a conseguir a espada do Cavaleiro Azul. Se os serianos estão a protegendo, quero deixar bem claro, que está além de nosso alcance. Merrows não são fadas más, mas são poderosos. E é meu trabalho como fairy doctor ensinar um ladrão descuidado como você, que não acredita em fadas, que o que está fazendo é inútil.

― Tomarei isso como a sua preocupação comigo.

― Mas com a minha política.

― Vamos trabalhar juntos para conseguir a espada.

― Edgar, você está me ouvindo?

― Ah, você irá me chamar por este nome?

― Bem, mas esse é o seu verdadeiro nome, não é?

― Você me faz tão feliz, Lydia!

Ele voltou ao que era antes. Lydia se recostou quando ele segurou suas mãos.

― Você realmente não estava pensando em morrer, não estava?

― Claro que não! – disse Nico.

― Estou vivo graças a você! Você salvou a minha vida!

― Tudo bem! Agora me largue!

― Este homem talvez é mais problemático do que um Merrow, murmurou Nico preocupado o que viria à frente.

*****

A guarda escocesa visitou a residência do Professor Carlton em Londres logo após que ele pediu a ajuda de um policial conhecido. A carta enviada pela sua filha Lydia data do dia que saiu de casa. Porém, quando chegou o dia em que o navio desembarcou em Londres, ela não apareceu. Ela não mandou nenhum aviso depois disso, o que o deixou preocupado. Mesmo que ele tenha enviado uma carta para Escócia perguntando o que havia ocorrido, não poderia ficar à espera de uma resposta. E recorreu à polícia para trabalhar no caso.

De acordo com o policial que veio à sua casa em Londres, não havia nenhum sinal de que ela teria usado a cabine do navio que foi comprado sob o nome de Lydia Carlton. Tanto que no dia em que aquele navio saiu do porto de Forth, testemunharam um homem, que se assemelhava ao ladrão responsável pelo assalto à propriedade de Gossam, no mesmo porto, teria raptado uma garota.

― Claro que isso não significa que sua filha foi tomada. – acrescentou o policial.

― Então, há alguma notícia? Como o contato do sequestrador ou uma nota do mesmo? Não faz mal que não seja algo direto, mas um relatório de alguém suspeito ou algo a mais que você conseguiu?

― Nada aconteceu e não queremos que ocorra nada. Isso porque entrei em contato com a polícia.

Mesmo Carlton, que normalmente era uma pessoa calma, não conseguia parar de entrar em pânico, principalmente quando se trata de sua única e preciosa filha. E há a possibilidade dela ter sido raptada por um criminoso, algo terrível. Passou os dedos pelos cabelos, o que o fez aparecer mais desarrumado.

― Então, se o sequestrador entrar em contato, avisarei imediatamente.

― E se não fizer contato? Você não vai começar a procurar minha filha agora?

― Por enquanto, estamos procurando rumores de um ladrão e a busca é apenas dentro da Inglaterra. Pode ter acontecido que o sequestrador tenha deixado o país e assim a conexão entre sua filha pode desaparecer. Por favor, entenda que isso pode significar que a busca de sua filha só se tornaria muito difícil.

Contado todo o procedimento, e depois que a polícia foi embora, Carlton afundou no sofá, abaixou a cabeça sendo segurada pelas mãos. Só depois de ter sido sacudido no ombro por seu assistente, que ele saiu daquele estado vazio.

― Professor, o que aconteceu? Está doente?

― Ah, é você, Langley.

Carlton ergueu os óculos redondos, refletiu por um momento e depois se levantou.

― Eu sei que não deveria ficar aqui sentado... Minha filha pode ter sido sequestrada.

― O quê? Verdade?

― Por isso que vou procurá-la. Langley, vou deixar meu trabalho para você.

― Espere um minuto, como vai procurar e onde?

― Vou verificar na minha residência na Escócia, e, então, ...

Enquanto falava, ele entrou em seu quarto, abriu uma mala e depois o armário. Ele começou a jogar as suas roupas.

― Não havia nenhuma palavra de sua casa, certo? E você tem alguma pista para seguir?

― Não... Não há uma maneira que uma pessoa poderia procurar o que a polícia não podia.

Carlton soltou os ombros e sentou-se na cama.

― Por favor, acalma-se. Mandarei a empregada fazer um chá e vamos pensar juntos no que fazer.

Langley estava acostumado a lidar com o professor. Sua filha descrevia Carlton como alguém totalmente desajeitado, além de sua pesquisa e até mesmo seu assistente podia ver isso.

Seu corpo estava mais para delgado, e ele não se importava com a roupa ou o penteado. Houve uma vez em que ele caminhava pelo campus com um livro aberto, tropeçou, bateu em uma árvore e foi atacado por um cão. No entanto, para seus alunos, isso não diminuía sua qualidade como professor.

― Ah, sim! Você está certo. Perdoe-me por entrar em pânico deste modo.

Assim que se acalmou um pouco, Carlton refletiu que provavelmente não  fosse algo importante como um sequestro, ou mesmo, ela encontrou algum tipo de problema que a fez esperar, e assim será tudo resolvido tranquilamente.

Lydia era uma filha que podia tomar conta de si mesma, e, por esse motivo, não ficava tão preocupado em viver longe dela. Após algum tempo, ele receberia notícias dela ou possivelmente ela estava perto de chegar.

Mas...E se ela estivesse envolvida com algum tipo de problema? Se fosse um ladrão, então, o sequestrador o contataria por acaso. Até lá, ele não podia fazer nada. Ou se o sequestrador não estivesse atrás de dinheiro e a estivesse usando como refém até que pudesse escapar? E aí, ela seria libertada ou...

Quanto mais pensava, mais ficava apavorado. O chá com conhaque não ajudou a tranquilizá-lo.

― O ladrão que invadiu a residência de Gossam, não foi? Se isso for verdade, então temos realmente uma estranha ligação, não é?

Com as palavras de seu assistente, Carlton ergueu a cabeça.

― Que conexão?

― Bem, o senhor se lembra de que o Doutor Gossam veio como convidado para universidade várias vezes? Ele veio perguntar ao professor sobre um lendário tesouro.

Carlton foi professor de história natural, mas especializou-se em minerais. Conhecia especialmente pedras preciosas e joias, e atualmente catalogava não somente as que existiam no cotidiano, mas também as que faziam parte do passado, bem como as que se encontravam em lendas e sonhos. Por exemplo, a esmeralda que Alexandre acreditava ter lhe trazido sucesso ou o rubi de Cleópatra, que foi responsável pela sua queda, e para completar o misterioso cristal de Cassandra, o jaspe de Salomé e a iolita do Rei Salomão.

Estas foram apenas uma tentativa de reunir em uma lista as heranças milagrosas criadas pela natureza, e nada relacionado a ocultismo, algo tão popular.

No entanto, periodicamente, ele recebia estudiosos da área que lhe pediam informações. Carlton recordava-se do nome Gossam, e era uma dessas pessoas. Assim, lembrou-se de que aquele viera perguntar sobre a localização da lendária estrela de safira.

― Ah sim! Aquele cavalheiro que estava interessado na pedra preciosa Merrow’s Star e se ela existia ou não.

― Você realmente acredita que ela exista?

― Bem, é uma lenda. No entanto, aparentemente existe há mais de 300 anos. Diziam que houve um homem chamado Conde Ashenbert. Porém, ele, bem, eu não sei, mas na história Conde Cavaleiro Azul de F. Brown diz que foi deixado aos cuidados dos sereianos e desapareceu. Contam que esse livro é pura ficção, então não há uma prova ou registro de que o conde permaneceu no exterior e não retornou. Só que a pedra preciosa pode ter desaparecido junto com ele. Por exemplo, se ele estava em um navio que afundou, ela pode estar no fundo do oceano. Foi uma criação romântica de que os sereianos têm a ver com isso.


― Mas, isso poderia estar relacionado com o desparecimento de Lydia? O ladrão que invadiu a casa de Gossam pode ter ido atrás de Lydia?

No momento em que ele começava a criar uma correlação com as situações, a empregada fez outro anúncio.

― O senhor tem uma visita que se diz que é o filho de mister Gossam.

― O quê?

O professor saiu correndo da sala e foi recepcionar pessoalmente o visitante. O homem se apresentou como o terceiro filho do doutor Gossam, e após se sentar no sofá da sala, contou:

― O senhor já ouviu que meu pai foi baleado por um ladrão e está no hospital? De fato, vim lhe informar, professor, que esse incidente está relacionado a algo muito importante para o senhor.

― É sobre a estrela dos sereianos?

O terceiro filho se mostrou surpreso, porém, rapidamente, o seu semblante se modificou, assentindo.

― O bandido não estava atrás de dinheiro, mas estava interessado na estrela dos sereianos. Nosso pai continuou a procura pela joia com as informações que o senhor passou para ele. E, finalmente, isso o induziu até o enigma misterioso inscrito na moeda de ouro do conde. Ele acredita que aí foi apontado o seu esconderijo, mas isso também foi tomado pelo ladrão. O enigma continha nomes de várias fadas, e ninguém sabia o significado por trás deles. A partir daí, meu pai buscava alguém que conhecesse as fadas, professor. Ele soube que sua falecida esposa era uma fairy doctor.


Oh, não!, pensou Carlton, enquanto apertava seus punhos suados.

― Então, meu pai descobriu que sua filha tinha se tornado uma fairy doctor e estava prestes a pedir sua ajuda.

― Ah, me lembro! – interrompeu Langley. ― Conheci senhor Gossam coincidentemente quando viajava, e fui questionado sobre a filha do professor.

― E você disse a ele que Lydia era uma fairy doctor.

― Bem, sim. Mas, foi algo que surgiu durante o bate-papo... Contudo, a última vez que conheci sua filha foi há alguns anos, e, por isso, mesmo que me perguntassem a sua descrição só me lembrava da cor do cabelo dela era enferrujado. – respondeu Langley, como pedisse desculpas.

Mesmo que seu aprendiz tenha dito isso, não era como Carlton escondesse a sua filha, e não era o momento de culpá-lo.

― Não, Langley, não se sinta culpado. E, então, o que você me diz é que o ladrão também descobriu sobre a minha filha?

― Infelizmente, sim. Portanto, há a possibilidade de sua filha estar nas mãos desse criminoso.

― Ah, sim. Isso me foi dito pela polícia também.

Dando um suspiro pesado, Carlton abaixou a cabeça. Era a pior situação. O terceiro filho apertou as sobrancelhas.

― Entendo. Mas, você não pode confiar na polícia. Atualmente, meu irmão mais velho tem publicado em jornais de todo o país a descrição do ladrão. E ofereceu uma recompensa para obter qualquer informação. E por esse motivo gostaríamos de pedir-lhe sua ajuda, professor.

― Farei o que puder.

― Há relatos de testemunhas de que sua filha e o ladrão tenham entrado em um trem a vapor para Scarborough. Se ela foi ameaçada pelo bastardo para encontrar a joia, então, é provável de que sua filha esteja indo para essa direção?

― No entanto, não sou familiarizado com as fadas como a minha filha.

― Você sabe muito mais do que nós. E o mais importante, a segurança de sua filha está em jogo.

Como ele exatamente disse, o terceiro filho lhe mostrou uma papel impresso com o enigma e um mapa.  Ele informou que o mapa estava marcado com lugares relacionados com o Conde Ashenbert de 300 anos atrás, e a estrela Merrow. Para onde teria ido se fosse sua filha?

― Então, professor, gostaríamos de lhe pedir que nos acompanhasse para salvar sua filha.

― Claro que vou! Você vai sair agora?

― Sim, imediatamente.

― Vamos! Discutiremos na carruagem.

Foi a primeira vez que seu aprendiz Langley testemunhou Carlton tomando uma decisão tão rápida que não fosse seu trabalho.

Nota da tradutora: Ah, como adoro essa cena! Tem coisa mais fofa a interação desses dois? Aposto e ganho que você ficou derretido (a). Você pode comparar a riqueza de detalhes do nascimento de um relacionamento entre os dois. O bacana aqui é que Lydia fica balançada, mas não arreda o pé e não continua não confiando em Edgar. Agora, caiu a ficha dele que não dá para manipulá-la com facilidade como outras mulheres. Lydia parece ingênua... Mas só parece J
Na parte “(...) Ainda que ela era encarada como um changeling de uma fada (...)” cabe aqui explicar que na mitologia celta diz que havia fadas que trocavam bebês humanos por sua prole. Ou seja, na verdade, os pais acabavam criando fadas, em vez de crianças.
Bom, é isso! O próximo capítulo 4 sai na primeira quinzena de maio. Ou antes... vamos ver!

Nos dê suporte! E divulgue! Beijos e até mais!





















 









































































3 comentários:

Ana disse...

O passado do Edgar é tão misterioso! Espero descobrir mais sobre ele essa vez!
Seu trabalho tá um arraso, menina! Muito obrigada!

Juliana Rizzutinho disse...

Olha... nem vou te adiantar para não estragar... Mas, a gente descobre coisas... Que caramba! Chega a ter mais dó dele do que o Ciel. Deixa chegar no livro 5! Tu vai ficar de boca aberta!!!
Bjs e obrigada por nos prestigiar!

Ana disse...

OMG, você está me deixando curiosíssima!
O pouco que descobri no mangá já me deixou na fossa! hahaha
Mal posso esperar por esse livro 5!
Beijos, e muito obrigada por tudo!